Pesquisar na Lua da Ana...

20 de junho de 2006

Uma história....

No ano passado, tive o prazer de viver em Alcobaça uma tarde que marcou a minha vida para sempre. Não posso dizer que me tenha "transformado" depois disso, mas sem dúvida nenhuma que foi um momento mágico que trouxe alguma doçura à minha vida. Esteve em Portugal o Contador de História Brasileiro Roberto de Freitas e eu fui uma das priviligiadas que o foi ouvir.
Apesar de escrito em Brasileiro, hoje fica aqui uma história que ele contou...claro que sem a ternura das suas expressões, sem a magia das suas palavras, mas ainda assim a valer a pena ler.
A LENDA DO AMOR
Trad. Oral Argentina
Recontada por Roberto de Freitas

"Há muitos e muitos anos atrás, bem antes de Deus ter criado do barro o homem e da costela deste a mulher, as virtudes e os defeitos passeavam pelo mundo conhecendo suas belezas e encantos. Passado algum tempo eles se casaram de correr de um canto para outro e desanimados pararam ao pé de uma montanha, sem ter mais o que conhecer ali ficaram meio entediados. Foi aí que a inteligência e a astúcia propuseram às outras virtudes e defeitos que brincassem um pouco para o tempo passar mais depressa e decidiram, então, brincar de pega-pega. A loucura, antes que qualquer outro se oferecesse, se encarregou de se o pegador, e como ninguém ousava contrariá-la, por conhecerem bem os seus ataques de loucura, concordaram. A loucura, então, tampou o rosto com o braço, e pôs-se a contar: um, treze, raiz quadrada de vinte três, trinta e dois, todo o valor do pi, três elevado a nove, vinte e cinco dividido por dois, nove e meio, setenta e sete, etc... E todos desataram a correr para os seus esconderijos.
A paixão foi a primeira que se escondeu, encontrando um enorme vulcão encandecendo, lá dentro se esgueirou sem dar um pio. A serenidade se escondeu às margem tranqüilas de um lago ao pé de uma montanha. A humildade foi se esconder longe nas areias de uma praia deserta. A mentira disse para todos onde se esconderia, deu mapa, indicou o caminho, apontou com dedo para onde era, mentira. O orgulho subiu até o cume gelado da mais alta das montanhas, e lá se deixou ver orgulhosamente por cima de tudo e de todos. A paciência, sem nenhuma pressa, juntou folha por folha, galho por galho, pedra por pedra, fez um monte, e com muita calma lá se escondeu. A ignorância, apesar de todos terem dito a ela que ali não seria um bom lugar para se esconder, cruzou os braços, deu de ombros e ali mesmo ficou. E assim todos foram se escondendo, cada qual no lugar que mais lhe convinha.
Até que a loucura finalmente sentenciou: um, dois, feijão com arroz, quem gosta de mim é ela, pirulito, setenta e nove, regrinha de três, X menos Y, oitenta e nove, trinta e um, noventa e três e cem, já estou indo, vou encontrar a todos. A loucura, então destrambelhou a procurar. Deu seis passos, e notou que algo lhe espetara o pé, se abaixou para olhar, e ali estava sem mexer ao menos um fio do cabelo, a preguiça. Um, dois, três preguiça. Mais adiante encontrou, correndo de esconderijo em esconderijo, sem se decidir em qual ficar, a dúvida. Um, dois, três, dúvida. E assim foi encontrando a todos, a paixão no vulcão, a serenidade no lago, a humildade na praia...
E depois de muito procurar, reparou que estava lhe faltando encontrar o amor. Procurou, procurou e procurou e não encontrou. Perguntou à todos se tinham visto o amor e nada. A traição, chamou a loucura ao canto, e disse-lhe ao pé-do-ouvido, pedindo que não contasse a ninguém que fora ela que lhe havia dito onde o amor estava escondido, e disse que era ali entre aquelas árvores. A loucura foi até lá, e procurou e procurou e nada. Até que, com raiva, perdeu a cabeça, pegou uma galha de uma árvore, afiou-lhe a ponta, e sai fincando o chão. Foi quando surgiu, frente a loucura, o amor com os olhos ensangüentados.
- Ó loucura, viste o que fizeste, feristes os meus olhos, e sem eles não posso mais caminhar pelo mundo.
A loucura arrependida perguntou ao amor o que ela poderia fazer para lhe ajudar. E o amor então lhe disse.
- Loucura, sem enxergar sozinha não poderei mais encontrar meu caminho pelo mundo, peço-te então que sejas a minha guia.
E foi assim, que a partir daquele dia, pelo mundo fora, o amor cego caminha de braços dados com a loucura."
... se alguma vez, ouvirem dizer que ele está a contar histórias em algum lado.... sério...corram! Vai valer a pena!

3 comentários:

Railwayman disse...

Huuummm Muito Bom........

Anónimo disse...

tão doce e tão ternurento q dá vontade de ouvir sempre mais!
bj

Anónimo disse...

Está lindo! Mas ouvi-lo torna todas as histórias ainda mais especiais... esqueceste-te de uma noite em Portimão.. onde, num ambiente diferente as histórias se multiplicaram! Esperemos que volte...recomenda-se!