Há muito tempo que precisava de "recomeçar" a escrever neste blog...
Este filme... é um bom motivo para isso!
Apareçam!
Pesquisar na Lua da Ana...
Mostrar mensagens com a etiqueta Para pensar..... Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Para pensar..... Mostrar todas as mensagens
5 de abril de 2010
12 de junho de 2007
e se...
...as coisas boas fossem eternas....
...a calma fosse constante...
...o tempo corresse devagar...
...os amigos estivessem mais perto...
...as palavras fossem as certas...
...os abraços acontecessem mais vezes...
...os olhos vissem mais cores...
...o sol brilhasse mais vezes....
...os sorrisos fossem sinceros...
...os dias fossem maiores....
...as noites fossem melhores...
...as saudades não nos consumissem...
...a eternidade não nos esperasse...
...o perdão não fosse preciso...
23 de abril de 2007
Hoje...um post lamechas....
"Quem me leva os meus fantasmas?" a música nova do Pedro Abrunhosa....
Não gosto especialmente dele, mas gosto MUITO desta letra, da mensagem profunda, do videoclip marcante.... das palavras que se aplicam um bocadinho a cada um de nós e muito àqueles para quem foi escrita....
.... e depois...
.... todos gostávamos de saber quem nos leva os nossos fantasmas....
___________________
Para vocês....
Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes
As palavras voavam
E eu via que o céu
Me nascia nos dedos
E a Ursa Maior
Eram ferros acesos
Marinheiros perdidos
Em portos distantes
Em bares escondidos
em sonhos gigantes
E a cidade vazia
Da cor do asfalto
E alguém me pedia
Que cantasse mais alto
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada?
Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam
Em que homens negavam
O que outros erguiam
E eu bebia da vida
Em goles pequenos
Tropeçava no riso
Abraçava venenos
De costas voltadas
Não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Quem o caminho se faz
Entre o alvo e a seta
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada?
De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado?
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado?
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta?
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada?
Quem me leva (x4)
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas
E me diz onde é a estrada?
Não gosto especialmente dele, mas gosto MUITO desta letra, da mensagem profunda, do videoclip marcante.... das palavras que se aplicam um bocadinho a cada um de nós e muito àqueles para quem foi escrita....
.... e depois...
.... todos gostávamos de saber quem nos leva os nossos fantasmas....
___________________
Para vocês....
Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes
As palavras voavam
E eu via que o céu
Me nascia nos dedos
E a Ursa Maior
Eram ferros acesos
Marinheiros perdidos
Em portos distantes
Em bares escondidos
em sonhos gigantes
E a cidade vazia
Da cor do asfalto
E alguém me pedia
Que cantasse mais alto
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada?
Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam
Em que homens negavam
O que outros erguiam
E eu bebia da vida
Em goles pequenos
Tropeçava no riso
Abraçava venenos
De costas voltadas
Não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Quem o caminho se faz
Entre o alvo e a seta
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada?
De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado?
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado?
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta?
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada?
Quem me leva (x4)
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas
E me diz onde é a estrada?
21 de março de 2007
Receita de Jovialidade de Pablo Picasso - 21 de Março - Dia Mundial da Poesia
Comemora-se hoje, dia 21 de Março, o Dia Mundial da Poesia. Por todo o país, multiplicam-se os debates, os recitais e outras formas originais de celebrar esta forma de arte.
Para vocês uma coisa que eu recebi hoje por mail....
Deita fora todos os números não essenciais à tua sobrevivência.
Isso inclui idade, peso e altura.
Deixa o médico preocupar-se com eles.
É para isso que ele é pago.
Frequenta, de preferência, amigos alegres.
Os de "baixo astral" põem-te em baixo.
Continua aprendendo...
Aprende mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa.
Não deixes o teu cérebro desocupado.
Uma mente sem uso é a oficina do diabo.
E o nome do diabo é Alzheimer.
Aprecia coisas simples.
Ri sempre, muito e alto.
Ri até perder o fôlego.
Lágrimas acontecem.
Aguenta, sofre e segue em frente.
A única pessoa que te acompanha a vida toda és tu mesmo.
Mantém-te vivo, enquanto vives!
Rodeia-te daquilo de que gostas:família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, o que for.
O teu lar é o teu refúgio.
Aproveita a tua saúde;
Se for boa, preserva-a.
Se está instável, melhora-a.
Se está abaixo desse nível, pede ajuda.
Não faças viagens de remorso.
Viaja para a cidade vizinha, para um país estrangeiro, mas não faças viagens ao passado.
Diz a quem amas, que realmente os amas, em todas as oportunidades.
E lembra-te sempre de que:
A vida não é medida pelo número de vezes que respiraste,mas pelos momentos em que perdeste o fôlego:
de tanto rir...
de surpresa...
de êxtase...
de felicidade...
Para vocês uma coisa que eu recebi hoje por mail....
Deita fora todos os números não essenciais à tua sobrevivência.
Isso inclui idade, peso e altura.
Deixa o médico preocupar-se com eles.
É para isso que ele é pago.
Frequenta, de preferência, amigos alegres.
Os de "baixo astral" põem-te em baixo.
Continua aprendendo...
Aprende mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa.
Não deixes o teu cérebro desocupado.
Uma mente sem uso é a oficina do diabo.
E o nome do diabo é Alzheimer.
Aprecia coisas simples.
Ri sempre, muito e alto.
Ri até perder o fôlego.
Lágrimas acontecem.
Aguenta, sofre e segue em frente.
A única pessoa que te acompanha a vida toda és tu mesmo.
Mantém-te vivo, enquanto vives!
Rodeia-te daquilo de que gostas:família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, o que for.
O teu lar é o teu refúgio.
Aproveita a tua saúde;
Se for boa, preserva-a.
Se está instável, melhora-a.
Se está abaixo desse nível, pede ajuda.
Não faças viagens de remorso.
Viaja para a cidade vizinha, para um país estrangeiro, mas não faças viagens ao passado.
Diz a quem amas, que realmente os amas, em todas as oportunidades.
E lembra-te sempre de que:
A vida não é medida pelo número de vezes que respiraste,mas pelos momentos em que perdeste o fôlego:
de tanto rir...
de surpresa...
de êxtase...
de felicidade...
13 de março de 2007
Light a candle.....

Está a ser feita uma petição online para acabar com os sites de pornografiainfantil.
A única coisa que nos pedem é para acender uma vela virtual.
O objectivo de acender um milhão de velas em 4 meses foi cumprido em 60 dias.
Quantas mais velas, melhor.
O link é este.
Eu já acendi aminha...
As crianças agradecem.
E o resto do mundo também.
25 de janeiro de 2007
A esperança depositada num novo ano....
"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um individuo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para frente ... Tudo vai ser diferente ...!"
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
17 de janeiro de 2007
Eu gostei muito.....
Rezem pela minha alma pecadora
António Lobo Antunes
"Tenho bem conta da precariedade disto. Qualquer dia a vida diz-me adeus e vai-se, e eu sem tempo sequer para despedidas
— Adeus vida
eu só olhos e narinas abertas na almofada. Vi o meu pai morto e a injustiça da sua imobilidade revolta-me. Vi pessoas de que gostava muito mortas e revoltei-me também. Quer dizer, nem uma palavra me saiu da boca e eu furioso. Parentes sérios, cumprimentos, abraços. Saía da capela que cheirava horrivelmente a flores, tudo igual cá fora e eu mais furioso ainda. Sentava-me num degrau do adro, ficava para ali. O relógio da igreja ia batendo horas. Não compreendia, não compreendo e o facto de não compreender desesperava-me. Não queria compreender só com a cabeça, queria compreender com os sentidos e nem a cabeça nem os sentidos me ajudavam. Um sentimento de solidão muito grande, de desamparo. E sempre a mesma pergunta
— Porquê?
e um vazio a seguir à pergunta. Meta-se depressa debaixo da terra pai ou seja, já que não se mexe, que o metam depressa debaixo da terra. E depois os objectos dos mortos que a pouco e pouco desaparecem, coisas em que mexiam todos os dias, que faziam parte deles, que usavam, e a sensação que as coisas mortas igualmente. Pegava-lhes e não se animavam. Pareciam moles. Casas cheias de ausências. Um prato que se sumia da mesa, uma cadeira a prolongar a forma de um corpo que não existia. Ficam retratos: que me interessam os retratos. O nome. E depois os retratos e o nome desaparecem igualmente. Ficarão os meus livros. Meu Deus serei apenas livros um dia, lombadas numa estante? E estas mãos? Estes olhos? Este corpo? Na última entrevista de um escritor inglês, ao perguntarem-lhe o que desejava da posteridade respondeu
— Que rezem pela minha alma pecadora.
Espero que façam o mesmo por mim porque andei cheiinho de pecados até à borda. Pela janela o vento nos arbustos, sol, que coisa. Rezem pela minha alma pecadora. E o vento que não pára de remexer, agitar. Que pretende ele? Dá ideia de querer segredar não sei quê, explicar-me e não lhe alcanço a linguagem. As casas também, às vezes. E a noite. À noite é pior: cochichos, cicios, avisos. Não sou uma criatura triste, sou uma criatura intrigada. Leonardo da Vinci costumava assinar Leonardo, iletrado. Lá vai, entre os arbustos, uma cadela no cio com a sua dúzia de cachorros ansiosos atrás. Esse ar preocupado dos cães. Às vezes lá estão eles mortos na berma das auto-estradas, ensanguentados. Se passar por ali no dia seguinte desapareceram: quem os levou? Um bêbado de braços abertos no meio das pistas, a desafiar os automóveis, de gabardina e cachecol no pino do verão. A gabardina sempre a mudar de forma derivado aos gestos. O horror dos doentes no hospital de quando eu era médico, O meu pai morreu sozinho num deles, a meio da noite. Que léria é esta? Alguém nasceu ou morreu acompanhado, porventura? Alguém viveu acompanhado a sério, não me refiro a gente por perto, refiro-me a acompanhado, uma proximidade sem palavras, uma fusão. Toquem-me no ombro, há alturas em que sinto necessidade que me toquem no ombro. Depois, logo a seguir, podem ir-se embora. Homens a despejarem bilhas de gás de uma camioneta. O senhor do café que desenrola o toldo à manivela. Bandeiras nos parapeitos derivado ao futebol. Uma ocasião fui buscar uma mulher que queria suicidar-se ao telhado de um prédio. Foi um bambúrrio não temos caído os dois dali abaixo. Os telhados dos prédios
(e era um prédio novo)
são oblíquos e escorregam.
— Esteja calma
insistia eu (que palermice)
— Esteja calma
e ela inclinada cá para baixo a chorar. Carros da polícia a acenderem e a apagarem as luzes do tejadilho, a cara da porteira numa espécie de postigo
— Eu não aguento
e claro que aguentou conforme a mulher aguentou, conforme eu aguentei. Lá viemos pela escada com ela sempre a chorar, um dos pés calçado, o outro descalço, e por cima da roupa essas batas que se põem para limpar o pó. Tinha uma espécie de vassoura que ficou lá em cima um bocado depenada. As luzes do tejadilho dos carros da polícia apagaram-se. Isto no Outono sob um céu de desastre. Não sei se a mulher tinha marido, filhos. Não tornei a vê-la e nem da cor do seu cabelo me recordo. Recordo-me das unhas comidas. De uma pulseirinha de oiro. Mais nada. E eu, que sofro de vertigens, para ali feito herói
— Esteja calma
quando não há heroísmo algum mim. Sou egoísta. Não valho grande coisa. É como na guerra: têm-se comportamentos esquisitos por um motivo que me escapa. De generosidade, de coragem. Claro que não estou necessariamente a falar no meu caso. Andei naquilo. É tudo. E mesmo que não aceite admiti-lo marcou-me para sempre: não me saem da ideia os nomes dos mortos. Aí está: os mortos nomes e coisas. O retrato de um deles no caixão, a perseguir-me até hoje. Não admira: quase tudo me persegue até hoje, uma velhota que lavava degraus num prédio, a gemer. Não andava na escola ainda e o raio da velhota não pára de gemer. Há cinquenta anos que geme no interior de mim. Vou acabar esta prosa. Como? Se alguém me desse uma ajudinha, uma ideia. O vento nos arbustos? Não. A cadela com cio? Também não. A mulher? Nem sonhar. Acabar apenas, levantar-me da mesa com uma frase a meio. O meu pai? Ainda menos. Talvez a frase do escritor inglês: rezem pela minha alma pecadora."
VISÃO - 28 DE DEZEMBRO DE 2006
António Lobo Antunes
"Tenho bem conta da precariedade disto. Qualquer dia a vida diz-me adeus e vai-se, e eu sem tempo sequer para despedidas
— Adeus vida
eu só olhos e narinas abertas na almofada. Vi o meu pai morto e a injustiça da sua imobilidade revolta-me. Vi pessoas de que gostava muito mortas e revoltei-me também. Quer dizer, nem uma palavra me saiu da boca e eu furioso. Parentes sérios, cumprimentos, abraços. Saía da capela que cheirava horrivelmente a flores, tudo igual cá fora e eu mais furioso ainda. Sentava-me num degrau do adro, ficava para ali. O relógio da igreja ia batendo horas. Não compreendia, não compreendo e o facto de não compreender desesperava-me. Não queria compreender só com a cabeça, queria compreender com os sentidos e nem a cabeça nem os sentidos me ajudavam. Um sentimento de solidão muito grande, de desamparo. E sempre a mesma pergunta
— Porquê?
e um vazio a seguir à pergunta. Meta-se depressa debaixo da terra pai ou seja, já que não se mexe, que o metam depressa debaixo da terra. E depois os objectos dos mortos que a pouco e pouco desaparecem, coisas em que mexiam todos os dias, que faziam parte deles, que usavam, e a sensação que as coisas mortas igualmente. Pegava-lhes e não se animavam. Pareciam moles. Casas cheias de ausências. Um prato que se sumia da mesa, uma cadeira a prolongar a forma de um corpo que não existia. Ficam retratos: que me interessam os retratos. O nome. E depois os retratos e o nome desaparecem igualmente. Ficarão os meus livros. Meu Deus serei apenas livros um dia, lombadas numa estante? E estas mãos? Estes olhos? Este corpo? Na última entrevista de um escritor inglês, ao perguntarem-lhe o que desejava da posteridade respondeu
— Que rezem pela minha alma pecadora.
Espero que façam o mesmo por mim porque andei cheiinho de pecados até à borda. Pela janela o vento nos arbustos, sol, que coisa. Rezem pela minha alma pecadora. E o vento que não pára de remexer, agitar. Que pretende ele? Dá ideia de querer segredar não sei quê, explicar-me e não lhe alcanço a linguagem. As casas também, às vezes. E a noite. À noite é pior: cochichos, cicios, avisos. Não sou uma criatura triste, sou uma criatura intrigada. Leonardo da Vinci costumava assinar Leonardo, iletrado. Lá vai, entre os arbustos, uma cadela no cio com a sua dúzia de cachorros ansiosos atrás. Esse ar preocupado dos cães. Às vezes lá estão eles mortos na berma das auto-estradas, ensanguentados. Se passar por ali no dia seguinte desapareceram: quem os levou? Um bêbado de braços abertos no meio das pistas, a desafiar os automóveis, de gabardina e cachecol no pino do verão. A gabardina sempre a mudar de forma derivado aos gestos. O horror dos doentes no hospital de quando eu era médico, O meu pai morreu sozinho num deles, a meio da noite. Que léria é esta? Alguém nasceu ou morreu acompanhado, porventura? Alguém viveu acompanhado a sério, não me refiro a gente por perto, refiro-me a acompanhado, uma proximidade sem palavras, uma fusão. Toquem-me no ombro, há alturas em que sinto necessidade que me toquem no ombro. Depois, logo a seguir, podem ir-se embora. Homens a despejarem bilhas de gás de uma camioneta. O senhor do café que desenrola o toldo à manivela. Bandeiras nos parapeitos derivado ao futebol. Uma ocasião fui buscar uma mulher que queria suicidar-se ao telhado de um prédio. Foi um bambúrrio não temos caído os dois dali abaixo. Os telhados dos prédios
(e era um prédio novo)
são oblíquos e escorregam.
— Esteja calma
insistia eu (que palermice)
— Esteja calma
e ela inclinada cá para baixo a chorar. Carros da polícia a acenderem e a apagarem as luzes do tejadilho, a cara da porteira numa espécie de postigo
— Eu não aguento
e claro que aguentou conforme a mulher aguentou, conforme eu aguentei. Lá viemos pela escada com ela sempre a chorar, um dos pés calçado, o outro descalço, e por cima da roupa essas batas que se põem para limpar o pó. Tinha uma espécie de vassoura que ficou lá em cima um bocado depenada. As luzes do tejadilho dos carros da polícia apagaram-se. Isto no Outono sob um céu de desastre. Não sei se a mulher tinha marido, filhos. Não tornei a vê-la e nem da cor do seu cabelo me recordo. Recordo-me das unhas comidas. De uma pulseirinha de oiro. Mais nada. E eu, que sofro de vertigens, para ali feito herói
— Esteja calma
quando não há heroísmo algum mim. Sou egoísta. Não valho grande coisa. É como na guerra: têm-se comportamentos esquisitos por um motivo que me escapa. De generosidade, de coragem. Claro que não estou necessariamente a falar no meu caso. Andei naquilo. É tudo. E mesmo que não aceite admiti-lo marcou-me para sempre: não me saem da ideia os nomes dos mortos. Aí está: os mortos nomes e coisas. O retrato de um deles no caixão, a perseguir-me até hoje. Não admira: quase tudo me persegue até hoje, uma velhota que lavava degraus num prédio, a gemer. Não andava na escola ainda e o raio da velhota não pára de gemer. Há cinquenta anos que geme no interior de mim. Vou acabar esta prosa. Como? Se alguém me desse uma ajudinha, uma ideia. O vento nos arbustos? Não. A cadela com cio? Também não. A mulher? Nem sonhar. Acabar apenas, levantar-me da mesa com uma frase a meio. O meu pai? Ainda menos. Talvez a frase do escritor inglês: rezem pela minha alma pecadora."
VISÃO - 28 DE DEZEMBRO DE 2006
25 de setembro de 2006
Força Tinica!
"A vida é um enorme e grandioso quadro, atira-lhe com toda a tinta que puderes"
Danny Kaye (1913 - 1987)
Danny Kaye (1913 - 1987)
Subscrever:
Mensagens (Atom)